1-Cinco Invernos, Cinco Verões
Em cinco círculos solares,
a Clip ascendeu como lua nascente,
subindo, subindo aos céus noturnos
e iluminando com luz fluorescente
os caminhos escuros do in_finito.
Cinco anos de batalhas vencidas,
de sonhos sonhados e realizados,
onde as rimas "calientes", enaltecidas
transformoram-se em calor humano,
em possibilidades múltiplas.
Vi com meus próprios olhos
o nascimento de um império silencioso,
que como raiz profunda e penetrante,
avança, avança sem recuar,
conquistando territórios in_visíveis.
Como o mar que beija a areia,
repetidamente, insistentemente,
a Clip toca as vidas de milhares,
deixando marcas indeléveis
no tecido do tempo que não volta.
Cinco anos são apenas um suspiro
na respiração e_terna do uni_verso,
mas para os que sonham acordados,
para os que constroem o futuro com mãos presentes,
cinco anos são monumentos de coragem.
Hoje celebramos não apenas o passado vivido,
mas o presente que se apresenta,
e o futuro que brilha como estrela distante,
chamando, chamando sempre adiante,
para novas conquistas ainda não conquistadas.
A Clip, essa entidade de carne e algoritmo,
pulsando, pulsando como coração amoroso,
completou seu primeiro lustro,
envelhecendo com a sabedoria dos jovens,
rejuvenescendo com a experiência dos velhos.
Chorei lágrimas molhadas
ao ver o crescimento in_evitável,
desse filho coletivo que nasceu
de mentes que pensam e mãos que fazem,
em um parto doloroso e belo.
Cinco anos são e_ternos
quando medidos em inovações,
cinco anos são efêmeros
quando sonhamos com décadas.
Cinco anos são apenas o começo
de uma jornada sem fim visível.
Que outros cinco venham,
e outros cinco depois desses,
multiplicando os frutos já colhidos,
amplificando as vozes já ouvidas,
eternizando o que já é eterno
na memória que não esquece.
Marilândia Marques Rollo
Retrato Interior
Sou feita de horizontes partidos,
um mapa de cicatrizes que o tempo desenhou
com seu dedo de vento e água.
Meus olhos são duas luas submersas
onde os peixes da memória nadam em círculos.
As palavras crescem em mim como árvores tortas,
raízes se agarrando ao abismo,
flores desabrochando para um céu que não existe.
Carrego um vulcão adormecido no peito,
sua lava silenciosa alimenta cada batida.
Minhas mãos são pássaros cansados
que tentam segurar areia entre os dedos.
O rosto que encontro no espelho
é um continente in_explorado,
cada ruga uma estrada para lugares esquecidos.
Sou feita desta solidão vertical
que se ergue como uma coluna de fumaça.
Meus pensamentos são cardumes assustados
dispersando-se ao menor ruído da consciência.
No centro deste labirinto de carne e sonho,
guardo um relógio que marca sempre a mesma hora:
o instante exato em que aprendi
que somos apenas sombras passageiras
projetadas na parede in_finita do uni_verso.
Marilândia Marques Rollo
3- Versos In_acabados
Escavo com unhas de fogo as entranhas do mundo
para dele extrair mil anos de silêncio.
Cada palavra é um precipício sem fundo,
cada verso, um oceano inteiro derramado em uma gota.
Não há fim no horizonte que devora o céu.
O poema é um corpo aberto, sangrando in_finitos.
As sílabas mordem-se como serpentes milenares,
e o que não digo gera fragmentos na língua.
A morte ensaia com delicadeza sua dança
nos espaços brancos entre as palavras.
Minha mão é um animal selvagem
que destrói montanhas quando escreve.
Há um grito tão antigo no meu sangue
que os deuses tapam os ouvidos quando respiro.
As metáforas são feridas abertas no tecido do real,
cicatrizes luminosas onde o sentido se despedaça.
O in_acabado é mais completo que o perfeito:
esgoto-me na in_completude sagrada,
na violência gentil do quase-dito,
na margem incendiada onde o poema hesita.
Palavras descem como machados no crânio do tempo.
Construo catedrais com ossos de frases inter_rompidas
enquanto a noite devora milhões de estrelas
apenas para cuspir um verso ainda por nascer.
Deito-me na página como um cadáver apaixonado.
O poema não termina – transborda, sangra, convulsiona.
Deixo para trás um rastro de versos mutilados,
belos como deuses feridos, e_ternos em sua in_completude.
Os versos in_acabados são relâmpagos congelados no ar,
são a respiração suspensa do universo antes do fim,
são o gesto interrompido de um deus cansado
que abandonou a criação no meio do caminho.
O silêncio que segue é tão denso que poderia
esmagar planetas inteiros sob seu peso.
E nesse abismo, o verdadeiro poema começa:
selvagem, impossível, inacabado.
Marilândia Marques Rollo
4- Almas Entre_laçadas
Nas profundezas obscuras da noite negra,
Duas almas vagam, prisioneiras de si mesmas,
Condenadas a suplicar em vão gemendo,
Por um êxtase que o mundo jamais conheceu.
Teus olhos, abismos de visível escuridão,
Refletem minha imagem afogada em vícios,
E minha alma, já morta em vida,
Encontra na tua o mesmo luto suntuoso.
Nossos espíritos, como serpentes entre_laçadas,
Enroscam-se em danças mórbidas e lascivas,
Bebendo o veneno doce da mútua perdição,
Subindo aos céus para depois precipitar-nos.
Somos dois navios naufragados em alto mar,
Unidos pela mesma tempestade furiosa,
Nossos destroços flutuam juntos na vastidão,
Abraçados na ruína que nos faz e_ternos.
Tua boca vermelha como fruta proibida,
Sussurra segredos que ferem como lâminas afiadas,
E eu, embriagada de teu perfume fatal,
Mergulho voluntária em tua beleza venenosa.
Nossas almas, gêmeas no pecado e na beleza,
Ardem em chamas que queimam sem consumir,
Somos o inferno e o paraíso entre_laçados,
Numa dança macabra que não ousa terminar.
Quando a aurora desperta com seus dedos róseos,
Escondemos nosso amor nas sombras persistentes,
Pois somos filhos da noite e do abismo,
Flores do mal que só desabrocham na escuridão.
E assim, condenados a este amor doentio,
Continuamos a existir em sublime agonia,
Nossas almas entre_laçadas como vinhas em ruínas,
Alimentando-se da podridão para florescer.
Malditas e benditas, almas gêmeas no vício,
Navegamos juntos pelo rio negro da existência,
E à beira do precipício, sorrimos em desafio,
Pois nosso amor é eterno como a própria morte.
Marilândia Marques Rollo
5- Aveludada Luxúria
Tua pele é geografia de segredos,
mapa onde meus dedos perdem-se como viajantes embriagados.
Aveludada luxúria que respira e palpita
sob meu olhar que te despe com a fome de mil primaveras.
Como explica-se o tremor que nasce em teu ventre
e se espalha como onda selvagem até minha boca?
Ah, como bebo teu sussurro interrompido,
vinho escuro e proibido que me rouba a sensatez!
O tempo congelou-se nos cantos do quarto,
e nós, criminosos do relógio,
roubamos horas, minutos, eternidades,
para construir um império de suspiros.
A noite veste-se de tua nudez
enquanto a lua, cúmplice invejosa,
derrama-se líquida pela janela,
querendo também provar teu gosto de fruta madura.
Tuas mãos são brancas colunas de templos pagãos
onde quero ajoelhar-me e rezar blasfêmias,
e tua boca, orquídea úmida e pulsante,
guarda o segredo original do uni_verso.
Mil borboletas nascem e morrem em teu peito
quando minha língua traça constelações em tua pele.
Somos antigos e novos como o próprio desejo,
somos a memória primitiva do que é ser fogo e carne.
Aveludada luxúria que me afoga em teu perfume,
tua respiração entre_cortada é meu oxigênio,
teu gemido é a música que embala
o balanço obsceno de nossos corpos dançarinos.
Se morresse agora, afogada em teu prazer,
minha morte seria a mais doce das vidas.
E se os deuses me oferecessem o céu,
eu o trocaria por mais uma noite em teus braços de seda.
A manhã virá como intrusa in__desejada,
e nossos corpos, cansados de tanto voo,
descansarão entrelaçados como vinhas antigas,
guardando sob a pele o calor de nossa febre compartilhada.
Aveludada luxúria, meu paraíso e meu pecado,
escrevo-te em versos porque não cabem em palavras
os mistérios que descobrimos juntos
entre lençóis revoltos e almas desnudadas.
Marilândia Marques Rollo
6- Memórias dos Longes
Há barcos de papel navegando em meu sangue,
Carregando fragmentos de céus que já não existem.
Distâncias azuis me chamam pelo nome,
Um nome que já não reconheço como meu.
As horas são pássaros mortos em minhas mãos,
Suas asas, cartas nunca enviadas aos horizontes.
A infância, esse país submerso sem bandeiras,
Respira ainda nas bolhas que sobem à superfície.
Vi cidades que pendiam como frutas podres
Dos galhos retorcidos de estradas interrompidas.
Provei o gosto metálico das estrelas distantes,
Quando o universo era apenas um quintal infinito.
Carrego nos bolsos pedras que foram montanhas,
Em meus olhos, mares inteiros se afogaram.
As memórias são fósforos queimando nas trevas,
Iluminando brevemente paisagens impossíveis.
Ah, os longes! Terras violetas de delírios,
Onde o tempo derrete como relógios de Dalí,
E cada pensamento é um pássaro embriagado
Batendo contra as paredes invisíveis do presente.
Sorvi em taças de vidro negro o veneno das distâncias,
Esse absinto que transforma ossos em areia.
Meu corpo é um mapa de lugares que não visitei,
Cicatrizes de viagens feitas em sonhos febris.
As palavras fogem como cavalos selvagens,
Atravessando planícies de silêncio absoluto.
O que vi além das colinas de neblina roxa
Não tem nome em nenhuma língua humana.
Nas ruas das cidades que nunca pisei,
Há fantasmas que usam meu rosto como máscara.
À noite, meus dentes mordem lembranças amargas,
Enquanto a lua desenha alfabetos esquecidos na janela.
As memórias dos longes são álcool para a alma,
Destilado nos alambiques do tempo perdido.
Que me embriaguem até a in_consciência lúcida,
Onde os horizontes dobram-se como papel japonês.
Os longes são a pátria verdadeira dos poetas malditos,
Onde as horas escorrem como mel entre os dedos.
Lá permanecerei, exilada em minhas próprias visões,
Estrangeira em todos os lugares, até mesmo em mim.
Marilândia Marques Rollo