domingo, 16 de março de 2025

Retrato Interior

Retrato Interior Sou feita de horizontes partidos, um mapa de cicatrizes que o tempo desenhou com seu dedo de vento e água. Meus olhos são duas luas submersas onde os peixes da memória nadam em círculos. As palavras crescem em mim como árvores tortas, raízes se agarrando ao abismo, flores desabrochando para um céu que não existe. Carrego um vulcão adormecido no peito, sua lava silenciosa alimenta cada batida. Minhas mãos são pássaros cansados que tentam segurar areia entre os dedos. O rosto que encontro no espelho é um continente inexplorado, cada ruga uma estrada para lugares esquecidos. Sou feita desta solidão vertical que se ergue como uma coluna de fumaça. Meus pensamentos são cardumes assustados dispersando-se ao menor ruído da consciência. No centro deste labirinto de carne e sonho, guardo um relógio que marca sempre a mesma hora: o instante exato em que aprendi que somos apenas sombras passageiras projetadas na parede infinita do universo. Marilândia

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