Às Árvores
Sussurram as árvores à beira do prado,
Como vozes antigas, tão tristes, caladas,
Murmúrios da vida que esão-se em pecado,
E de amores perdidos, memórias veladas.
Os galhos que abraçam o céu, solitários,
No vento balançam em dança sombria,
E as folhas, como almas em sonhos contrários,
Caem leves no chão, no fim da agonia.
Por que, ó destino, a vida é tão breve,
E as árvores velhas a tudo assistem?
Que segredo escondem seus ramos de neve,
Que mesmo no outono, persistem, resistem?
E eu, sob a sombra, em triste vigília,
Escuto seus cantos de eterna saudade,
Como quem busca, na brisa que brilha,
Um eco distante da felicidade.
Marilândia Marques Rollo
Árvores
À sombra fria das árvores antigas,
Sonho em silêncio, perdido em lembrança,
E o vento sopra, leve e misterioso,
Trazendo a memória de uma esperança.
As folhas caem, como sonhos mortos,
Despem os galhos do verde passado,
E o céu, tão pálido, chora saudade
Das noites claras e do tempo amado.
Ó árvores tristes, guardiãs do enigma,
De amores velhos e de dores vãs,
Teus suspiros ecoam em meu peito,
Como um lamento das eras pagãs.
Se em teus troncos gravaram-se juras,
Promessas feitas sob o luar,
Hoje, são sombras de um tempo esquecido,
Que o outono frio não quer perdoar.
Ó, árvores belas, tão solenes e calmas,
Que guardais segredos de um amor sem fim,
Quisera eu ser como vós, serenas,
Acarinhadas pelo vento soluçante dentre pau-marfim.
Marilândia
ÁRVORES DO ALENTEJO// MUSICALIDADE DAS PRECES
Horas mortas... Curvada aos pés do Monte// Visão que a fluorecente luz estampa
A planície é um brasido... e, torturadas,// Excentricamente retorcida...assim, inflamadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,// E as frágeis, débeis quimeras alucinadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!// Rogam-Lhe divinais unções para bendizer a tampa!
Os trágicos perfis no horizonte!// Bem como os tresloucados contornos dos arvoredos!
E quando, manhã alta, o sol posponte// E a brisa perfumada, cheirando a lavandas
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,// Na musicalidade das cirandas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas// Transcendentes, que desfiam em segredos
Árvores! Corações, almas que choram,// Folhas dançarimas, ramos entrelaçados,
Almas iguais à minha, almas que imploram// No exílio dos meus sonhos abraçados
Em vão remédio para tanta mágoa!// Que oscila embriagado, pairando dentre nódoas!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:// Folhagens bailarinas, encarai a Natureza: -
Também ando a gritar, morta de sede,// _ Vede como deliram, sob as densas névoas,
Pedindo a Deus a minha gota de água!// Suplicando a ínfima porção da pureza!
Florbela Espanca// Marilândia Marques Rollo
MUSICALIDADE DAS PRECES
À sombra fria das árvores antigas// Visão que a fluorecente luz estampa
Sonho em silêncio, perdida em lembrança//Excentricamente retorcida e inflamada...
E o vento sopra, leve e misterioso// Sobre as frágeis, débeis quimeras alucinadas,
Trazendo a memória de uma esperança// A rogar divinais unções para bendizer a tampa!
As folhas caem, como sonhos mortos,// Bem como os tresloucados contornos dos arvoredos!
Despem os galhos do verde passado,// Com a brisa perfumada, cheirando a lavandas
E o céu, tão pálido, chora saudade// Na musicalidade das cirandas,
Das noites claras e do tempo amado// Em transcendências que desfiam segredos ...
Folhas dançarinas, ramos entrelaçados,// Quais árvores tristes, guardiãs de enigmas,
No exílio dos meus sonhos abraçados //De amores velhos e de dores vãs,
Que oscilam embriagados, pairando dentre nódoas// Teus suspiros ecoam em meu peito
Como um lamento das eras pagãs// Tais saudades sem termo e de amargura...
Ó árvores tristes, guardiãs do enigma, //Se em teus troncos gravaram-se juras,
Promessas feitas sob o luar, // De amores velhos e de dores vãs,
Hoje, são sombras de um tempo esquecido, // Que o outono frio não quer perdoar...
Ó, árvores belas, tão solenes e calmas,// Que guardais segredos de um amor sem fim
Quisera eu ser como vós, serenas,// Acarinhadas pelo vento soluçante dentre paus-marfim.
Marilândia
E quando, manhã alta, o sol posponte// E a brisa perfumada, cheirando a lavandas
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,// Na musicalidade das cirandas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas// Transcendentes, que desfiam em segredos
Os trágicos perfis no horizonte!// Bem como os tresloucados contornos dos arvoredos!
Árvores! Corações, almas que choram,// Folhas dançarimas, ramos entrelaçados,
Almas iguais à minha, almas que imploram// No exílio dos meus sonhos abraçados
Em vão remédio para tanta mágoa!// Que oscila embriagado, pairando dentre nódoas!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:// Folhagens bailarinas, encarai a Natureza: -
Também ando a gritar, morta de sede,// _ Vede como deliram, sob as densas névoas,
Pedindo a Deus a minha gota de água!// Suplicando a ínfima porção da pureza!
Florbela Espanca// Marilândia Marques Rollo