• Rosa da Noite

    Veludo negro que desafia a natureza,
    Vestida em gotas de orvalho cristalino,
    Como lágrimas de estrelas capturadas
    No jardim onde a noite fez morada.

    Quem te pintou com a tinta do mistério?
    Quem roubou da escuridão sua essência
    Para formar pétalas de sombra delicada
    Que o sol jamais conseguiu colorir?

    Rosa negra, confidente da lua,
    Tuas pétalas guardam segredos ancestrais,
    Sussurrados apenas nas horas mais tardias
    Quando o mundo se entrega ao sono profundo.

    És contradição vestida de beleza —
    A morte e a vida num único botão,
    Fragilidade envolta em cor de luto,
    Delicadeza nascida da escuridão.

    Cada gota que repousa em teu manto
    É um universo inteiro refletido,
    Mundos de luz presos em esferas d'água
    Sobre o céu noturno de tuas pétalas.

    Rosa que nasceu de sonhos sombrios,
    De poemas nunca ditos, de suspiros contidos,
    Floresces desafiando o que é comum,
    Provando que até a noite pode parir beleza.

    És a flor dos amantes que se encontram às escondidas,
    Dos corações que conheceram a dor profunda,
    Dos poetas que escrevem à luz de velas,
    Dos que enxergam estrelas em céus nublados.

    Negra como ébano, rara como verdade,
    Tua beleza não pede permissão nem desculpas.
    És poema vivo brotado da terra,
    Escuridão que, ao florescer, ilumina.