TEMPESTUOSO CÉU
Tempestuoso Céu Sobre nós, o céu desmorona em dilúvio, como se o universo derramasse suas mágoas ancestrais. Não é apenas água o que cai das alturas — são histórias líquidas, são antigos desejos finalmente libertos. Tempestuoso céu, teu coração é um tambor descontrolado! Bates com punhos de trovão nas portas da terra, e eu, pequeno como um grão de areia, contemplo tua fúria com olhos de criança assustada. De onde vem esta ira celeste? Talvez do mesmo lugar onde nascem os sonhos impossíveis, talvez das mesmas entranhas onde dormem os vulcões, talvez do mesmo abismo onde meu amor se esconde. As nuvens são barcos negros navegando no abismo invertido, carregados de promessas e de medos. Navios fantasmas comandados por capitães invisíveis que conhecem os segredos do vento e da distância. Como não amar esta violência majestosa, esta desordem perfeita dos elementos? O céu tempestuoso é um poeta desesperado que não encontrou palavras e decidiu gritar com raios. Relâmpagos cortam o horizonte como facas de prata, e por um instante, um só instante fugaz, revelam o esqueleto luminoso do mundo, a estrutura secreta que sustenta todas as aparências. Quando chove assim, com esta fúria sagrada, é como se o céu confessasse todos os seus pecados de uma vez. A terra recebe esta confissão com humildade, absorve cada gota como uma absolvição líquida. E eu, entre o céu e a terra, testemunha desta guerra amorosa, bebo a tempestade como se fosse vinho dos deuses. Cada trovão ressoa dentro de mim como uma verdade antiga, cada gota de chuva é uma palavra do poema infinito do mundo. Tempestuoso céu, irmão da minha inquietude, espelho das minhas próprias tormentas interiores. Quando passares, quando o azul retornar como uma mentira calma, algo em mim permanecerá transformado pela tua passagem, como a terra que, depois da tempestade, acorda mais verde, mais viva, mais verdadeira. MARILÂNDIA