RELICÁRIO DE AUSÊNCIAS
RELICÁRIO DE AUSÊNCIAS Guardei tudo o que me deste em silêncio, Como quem guarda estrelas em um baú antigo, Cada objeto, um verso; cada toque, um segredo Que somente a noite conhece quando sonho contigo. As cartas amareladas pelo tempo inclemente Conservam tua voz em letras que ainda tremem, E quando as leio, sob a luz da lua crescente, Revivo os beijos que os lábios já não temem. O lenço bordado com tuas iniciais discretas Ainda conserva o perfume da última despedida, Quando as palavras ficaram incompletas E o adeus pesou mais que toda a vida. A pequena concha que colheste à beira-mar Murmura histórias quando a aproximo do ouvido, Conta-me de um amor que não quis acabar, De um tempo que, mesmo longe, não foi esquecido. Mas dentre todos os tesouros de minha memória, O mais precioso, aquele que me desalenta e me cura, É a pétala seca daquela flor transitória Que me ofertaste em momento de ternura. A pétala carmesim de uma rosa fugaz, Que entre as páginas de um livro conservo, Fala-me de um amor que foi capaz De transformar em eternidade cada nervo. Assim vivo de lembranças e suspiros, Contemplando relíquias de um tempo que se foi, Onde cada objeto conta, em seus giros, A história de um amor que nunca se destrói. Marilândia

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