Evento Efepê de Poesias dia 5
VEREDAS DA POESIA
ENVEREDANDO
Evento Efepê de Poesias
TEMA:"AS COISAS FINDAS
MUITO MAIS QUE LINDAS
ESSAS FICARÃO"
POEMA MEMÓRIA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
AUTORA:Marilândia Marques Rollo
DATA: 05/04/2025
TÍTULO: BELEZA NO ADEUS
Convidada pelo nobre poeta Efepê de Poesias
Beleza no Adeus
O que termina carrega uma beleza que o eterno desconhece,
como o sol ao se despedir pinta o céu com cores
que a manhã jamais sonhou possuir.
As coisas findas são cofres selados pelo tempo,
onde guardamos não o que foram, mas o que significaram.
Olha como a folha, em seu último suspiro outonal,
abraça a mais profunda de suas cores antes de partir.
Não há esmeralda na primavera que se compare
ao rubi ardente de sua despedida.
Aprendi que o amor que se foi
é como a concha abandonada na praia:
vazia de vida, mas cheia de música,
guardando em suas curvas o eco infinito do mar.
As coisas findas são livros completos,
onde cada página virada construiu uma história
que agora repousa, inteira e perfeita,
sem o risco de capítulos mal escritos.
Como não ver beleza no crepúsculo?
No momento exato em que o dia confessa sua mortalidade
e entrega ao mundo seu testamento de luzes e sombras?
As coisas findas são todos os crepúsculos guardados na memória.
A canção mais doce é aquela cujas notas finais
ainda vibram no silêncio
que as sucede,
como se o vazio fosse uma caixa de ressonância
para tudo o que já não existe,
mas insiste em ecoar.
As coisas findas são rios que chegaram ao mar,
cumprindo seu destino de entregar-se à imensidão,
perdendo o nome, mas não a essência,
agora parte de algo muito maior que si mesmos.
Ah, as cidades que visitei e nunca mais verei!
Como são mais minhas agora, na ausência,
do que foram quando caminhei por suas ruas.
As coisas findas são territórios conquistados pela memória.
Uma carta amarelada pelo tempo,
um retrato desbotado,
um perfume
que já não habita frasco algum
e ainda assim invade os sentidos quando menos se espera.
As coisas findas são estrelas que já morreram
mas cuja luz ainda viaja pelo espaço,
atravessando distâncias inimagináveis
só para tocar nossos olhos por um instante.
Não me fales de eternidade quando temos o efêmero.
Não me ofereças o "para sempre" quando o "já foi" é tão mais verdadeiro.
As coisas findas, muito mais que lindas,
são a mais pura verdade que podemos possuir.
E quando eu mesmo for uma coisa finda,
quando meu nome for apenas um eco distante,
talvez então eu compreenda completamente
porque o que termina carrega em si uma beleza
que o eterno,
em sua infinita arrogância, jamais conhecerá.
Marilândia
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