A FELICIDADE
A Felicidade A felicidade não chega anunciando-se com trombetas, ela escorrega como luz entre as frestas das janelas, sutil conspiração da manhã contra as sombras. É uma colheita secreta que se faz com as mãos vazias e o peito cheio, uma sedição silenciosa do sangue contra as geografias do tempo. A felicidade tem os pés descalços e pisa sobre o orvalho da alma, desperta como um pássaro que inaugura o dia antes mesmo que o sol se comprometa com o horizonte. Não é tesouro que se guarde em cofres, nem moeda que se acumule em bolsos furados. É água que corre entre os dedos e ainda assim nos deixa mais saciados. Quem busca a felicidade como se busca ouro encontra apenas o eco das próprias passadas. Ela está na transparência do ar que não vemos, mas que nos sustenta a cada respiração. É um relâmpago breve que ilumina as cavernas mais profundas do ser, e nesse instante fugaz revelamos a constelação que habita nosso interior. A felicidade é essa rebelião serena contra o peso das horas e das pedras, esse respirar completo quando a vida nos atravessa como um rio decidido. Não a procure nos mapas dos outros — ela nasce nos territórios imprecisos onde o coração encontra seu próprio ritmo e dança, mesmo quando a música parece ausente. A felicidade é essa presença invisível que nos habita quando menos esperamos, e nos faz lembrar que estamos vivos não apenas por existir, mas por sentir.
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