quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

CANÇÃO DO VIOLEIRO

UNI_VERSO DE SONS Nas cordas estendidas da minha alma, teu nome vibra como dedilhado ancestral. Sou madeira encurvada, esculpida pelo tempo, que guarda em suas veias o rio da memória. Meu peito é caixa de ressonância onde ecoam as vozes da terra vermelha. Carrego um universo de sons nas mãos calejadas e nas unhas gastas de tanto arrancar suspiros do silêncio. Quando meus dedos tecem as cordas da viola, meu sangue serpenteia como melodia indomável. Não sou eu quem toca, é o vento que atravessa o deserto florido das minhas costelas vazias. Se pudesses abrir meu corpo com facas de prata, encontrarias um sol pulsante feito de madeira e aço, um labirinto de sons onde se perdem os pássaros e uma árvore de raízes presas às estrelas. Meu coração não conhece relógios nem calendários, apenas o tempo circular das canções ancestrais. Bate em sincronia com o tambor distante das montanhas e com a respiração ofegante das cachoeiras. Não procures entender o mistério deste pulsar, viola e homem fundidos em uma só existência. Os sábios tentaram e perderam-se no enigma de como um instrumento pode conter toda a vida. Em cada acorde que nasce dos meus dedos trêmulos, escorre a seiva dourada da minha verdade. Sou guardião de histórias que o tempo não apaga, sou ponte entre o visível e o que os olhos não alcançam. Violeiro eu sou, mas é a viola quem me toca, arrancando de mim canções que eu desconhecia. Meu coração é corda esticada entre o céu e a terra, vibrando na frequência exata da eternidade. Marilândia

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