terça-feira, 15 de julho de 2025

O Pão das Palavras (EVENTO POESIA MARIA DIA 24 AVALB)

Evento AVALB – Antônio Cândido 
Tema: "Não há povo e não há homem que possa viver sem ela [a literatura]" 
Estilos: Prosa poética e poesia (tradicional e minimalista) •
Autora: Marilândia Marques Rollo
Título: O Pão das Palavras ou (Da Literatura Como Espelho e Fuga)
Data: 24 de julho de 2025 
País: Brasil

Gentilmente convidada pela poetisa amiga Poesia Maria






Antonio Candido de Mello e Souza (Rio de Janeiro, 24 de julho de 1918 – São Paulo, 12 de maio de 2017) foi um sociólogo, crítico literário e professor universitário brasileiro. Estudioso da literatura brasileira e estrangeira, é autor de uma obra crítica extensa, respeitada nas principais universidades do Brasil. Antônio Cândido defendia o direito de todos à literatura, baseado na ideia de que a fabulação é uma necessidade básica do ser humano e na convicção sobre o enriquecimento produzido em cada um pela leitura. Este conceito é o guia mor. Em seu conhecido ensaio “O direito à literatura” (1988), Antõnio Cândido defende que a literatura seria um bem humanizador. Seu principal argumento é que a força humanizadora da literatura se deve a uma “ordem redentora da confusão”. 


Sob minha ótica, a Literatura representa muito mais que arte ou entretenimento. É uma forma essencial de existir, permitindo-nos enxergar através de olhos alheios, compreender diferentes realidades e refletir sobre a nossa própria condição humana. Parafraseando Antônio Cândido, a literatura é um direito: ela humaniza, educa, liberta. ler é entrar em contato com aquilo que é mais íntimo, e ao mesmo tempo, mais universal.Os livros nos ajudam a dar nome às emoções, a interpretar os silêncios da vida e a entender os conflitos do mundo. São pontes entre o passado e o presente, entre o eu e o outro. Na sociedade contemporânea, vincada pela pressa, pela superficialidade e pelas desigualdades, a literatura resiste como um espaço de profundidade, empatia e resistência- desafia-nos a sermos mais humanos.




Da Literatura Como Espelho e Fuga

Há quem diga que os livros são apenas papel e tinta, meras palavras dispostas em fileiras como soldados numa parada, mas eu vos digo que se enganam redondamente, pois a literatura é o espelho onde nos miramos sem medo de ver as rugas da alma, é o lugar onde habitam todos os homens que fomos, que somos e que jamais seremos, é a casa comum da humanidade onde não há porta que se feche nem janela que se cerre ao entendimento.

Quando abro um livro, qualquer livro, não importa se de poesia ou de prosa, se de amor ou de guerra, se de reis ou de mendigos, abro na verdade uma janela para o infinito, e por essa janela entram todos os ventos do mundo, todas as vozes que já gritaram de dor ou sussurraram de prazer, todos os silêncios que pesaram sobre os ombros dos homens como pedras de moinho, e compreendo então que a literatura não é ornamento nem luxo, mas necessidade vital como o ar que respiramos ou a água que bebemos.

Dirão os práticos, os que só veem utilidade no que se pode pesar e medir, que de que serve um poema para encher a barriga ou um romance para pagar as contas, mas eu respondo que sem a literatura seríamos apenas animais que aprenderam a falar, seríamos seres incompletos vagando pela terra sem compreender o mistério de estar vivos, sem saber que somos parte de uma história maior que começou quando o primeiro homem olhou para as estrelas e se perguntou por que estavam ali.

A literatura é a memória da espécie, é o lugar onde guardamos não apenas os fatos que aconteceram, mas os sentimentos que os acompanharam, é a arca onde salvamos do dilúvio do esquecimento tudo aquilo que nos fez humanos, e quando um livro se perde, quando uma obra se esquece, é como se uma estrela se apagasse no céu da consciência, deixando-nos um pouco mais pobres, um pouco mais órfãos, um pouco mais perdidos no labirinto do mundo.

Por isso defendo a literatura como se defendesse a vida, porque literatura é vida, vida destilada, vida compreendida, vida partilhada, e quem não lê, quem não se deixa tocar pela magia das palavras organizadas no papel, esse vive apenas uma vida, a sua, pequena e limitada, enquanto quem lê vive mil vidas, conhece mil mundos, ama mil amores, sofre mil dores, e torna-se assim mais humano, mais completo, mais preparado para enfrentar o mistério terrível e belo de estar vivo neste planeta perdido no meio do nada e do tudo.

Marilândia






 O Pão das Palavras 



Não há povo e não há homem que possa viver sem literatura, 
como não há corpo que resista sem o pão de cada dia, 
sem a água que corre pelos rios da alma, 
sem o ar que alimenta os pulmões da esperança. 


As palavras são sementes plantadas no coração dos homens, 
germinam em sonhos, florescem em canções, 
dão frutos de resistência nos tempos sombrios, 
oferecem sombra quando o sol da vida queima demais. 


Eu vi povos inteiros se levantarem com um verso, 
vi mulheres chorarem com um romance, 
vi crianças rirem com uma fábula antiga, 
vi velhos encontrarem paz numa página amarelada. 


A literatura é o espelho onde nos reconhecemos, 
é a janela pela qual vemos outros mundos, 
é a ponte que une o que fomos ao que seremos, 
é o fio que tece a trama da humanidade. 


Quando os tiranos queimam livros, 
sabem que estão queimando a alma dos povos, 
sabem que nas cinzas das palavras morrem as revoluções
e nascem os silêncios. 


Mas a literatura sempre renasce, 
como a erva que brota entre as pedras, 
como o canto que surge da garganta oprimida, 
como a luz que insiste em furar a escuridão. 


Por isso escrevo, por isso leio, por isso defendo cada verso, cada história, 
porque sei que nas palavras habita a única imortalidade que conhecemos. 



 Marilândia

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