mais um João Cabral
Cruz e Pedra (à maneira de João Cabral de Melo Neto) A cruz não era de ouro. Nem moldada em ideia. Era madeira bruta, fixada com prego e tempo. Não havia coros. Nem lágrimas líricas. Só sol duro no rosto, e sede. Sede real, de boca seca. O corpo caiu como cai o corpo de quem trabalha o dia inteiro, e no fim, apaga. A pedra era peso. Pedra de fato. Fechava o túmulo como fecham portas: sem poesia. Mas o que veio depois não foi clarim, nem canto etéreo. Foi o gesto mais concreto: o corpo de pé, a pedra empurrada, o espaço re_aberto. Ressurreição: não milagre florido, mas insistência do vivo em não caber no morto. Marilândia

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