ECOS DO DESPRENDIMENTO
ECOS DO DESPRENDIMENTO Hoje me desprendo como se desprende a folha do seu galho ancestral, sem medo nem lamento, em queda silenciosa, dança vertical que não pergunta onde termina a jornada. Não sou a mesma que fui quando teus olhos percorriam minha alma como rios noturnos. Minhas mãos já não seguram o que ontem era eterno, e tudo o que foi nosso agora é apenas vento. O mar, em seu vaivém infinito, sabe que abandonar é também uma forma de amar. Assim me vou, como se vai a tarde, deixando um céu em chamas e promessas desfeitas. Não me pergunte onde estará meu coração amanhã, pois nem eu mesmo sei em qual praia terminará esta deriva. Só sei que agora respiro mais leve, como quem deixa cair uma pedra no abismo e escuta o eco do desprendimento multiplicando-se em círculos profundos. As casas que habitamos se enchem de ausências, os retratos se desvanecem como brumas matinais, e o que um dia pensei ser imutável agora é apenas uma memória entre tantas. Como os pássaros que partem antes do inverno, sem explicações nem cerimônias, também eu me desfaço das amarras invisíveis, para que meu silêncio se converta em poesia. O universo em seu ciclo não conhece permanência. Somos apenas viajantes de passagem, e amar é também saber soltar quando as raízes já não sustentam o peso das flores. Aqui me tens, desprendida como nunca, livre e leve como poeira cósmica, ecoando no vazio que criamos, e nesse eco encontrando, por fim, a suprema beleza do que foi e do que nunca mais será. Marilândia

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