Coração que Verseja
Coração que Verseja Incendeio-me por dentro. as palavras são labaredas azuis no fundo da garganta. alimentam-se da carne escura do pensamento, crescem como erva daninha entre os ossos. Meu coração: alquimista louco transmutando sangue em tinta, dor em substantivo, febre em verbo. Quanto pesa um poema antes de nascer? a pedra bruta das palavras ainda por dizer é mais densa que chumbo. Carrego-a nas costelas, arquitetura provisória que dói e pulsa. A poesia é um animal selvagem que me habita. dorme em minhas vísceras, sonha na medula dos meus verbos. Às vezes acorda faminta, e devora minha língua, deixando apenas o osso branco do silêncio. O coração verseja em alfabeto de fogo. escreve nas paredes das veias, caligrafia elétrica, gramática de espasmos. Não compreendo esta linguagem, apenas a traduzo. Meu corpo: território ocupado por esta insurreição de metáforas. cada célula, um verso em potencial. cada nervo, uma linha in_acabada. O sangue circula em pentâmetros iâmbicos. Este poema não foi escrito. foi extraído como minério, arrancado como um dente, desenterrado como um cadáver que se recusa a morrer. O coração que verseja não conhece paz. é um músculo insone, perpétuo movimento de sístole e diástole, contração e expansão do uni_verso interior. Não há trégua nesta liturgia visceral. Versejo, logo existo. Desversejo, logo morro. Entre uma coisa e outra, este intervalo frágil a que chamamos Vida. Marilândia
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