terça-feira, 22 de abril de 2025

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Arquipélago de Silêncios Somos duas ilhas que se contemplam na distância, separadas pelo mar revolto das palavras não ditas. Tu, com tuas montanhas de segredos in_tocados, eu, com meus vales de desejos nunca confessados. Habitamos o mesmo teto como sombras paralelas que nunca se encontram mesmo ao meio-dia. Partilhamos o pão e o vinho na mesma mesa enquanto nossos olhares se perdem em horizontes distintos. Nossas mãos se tocam como galhos secos de inverno, sem a seiva que outrora fazia nascer as flores do desejo. Nossos lábios são desertos que esqueceram a chuva, territórios áridos onde nem mesmo o eco sobrevive. Dormimos lado a lado como livros na estante, encadernações próximas, guardando histórias estranhas entre si. Cada qual com seu próprio alfabeto in_decifrado, cada qual com suas páginas que o outro nunca lerá por completo. O relógio na parede é testemunha do nosso exílio conjunto, seus ponteiros dançam a valsa do tempo que nos devora. Enquanto isso, nós – astronautas perdidos em órbitas distintas – respiramos o mesmo ar rarefeito, sem nunca compartilhar o oxigênio. Somos dois faróis que iluminam direções opostas do mar, condenados a habitar a mesma rocha escarpada. Nossas luzes jamais se cruzam na neblina da noite, guiando navios que nunca atracarão em nosso porto comum. E assim seguimos, cartógrafos traçando mapas in_compatíveis, músicos tocando partituras dissonantes numa mesma sinfonia. No mesmo leito, sonhamos sonhos que não se tocam, como estrelas de constelações diferentes no mesmo céu noturno. Esta solidão a dois é mais profunda que qualquer abismo, mais vasta que o deserto, mais fria que o inverno polar. É um labirinto onde nos perdemos juntos, sem jamais nos encontrarmos nos corredores paralelos. Marilândia

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