O Lamento De Não Ser
O Lamento De Não Ser Eu no silêncio não lamento que se vá A primavera, o já amanhecer Das folhas que ontem verdes ainda estavam Sob a brisa morna e o dia a florescer. Nem lamento que já não me procures, que se apague O brilho que havia em teus olhos, que também chegue Uma estação do partir, que se fragmente E o vazio permaneça, sem que nada me chegue. Mais que tudo lamento já não me importar, Sim, lamento a tragédia de ser outro na essência, De me ter tornado estranho sem estranhamento, De ter perdido a mim mesma sem perceber a ausência. Não é o ontem perdido em que me conheci que lamento. Lamento não me reconhecer já por isso ser comum. Lamento ter-me apagado, lamento não conseguir sentir Com nostalgia o tempo em que fui alguém. Isso é que lamento, sim, com as lágrimas mais fundas Que guardam em si os segredos mais cruéis — A morte silenciosa da identidade, O extinguir da alma, mais terrível que o dos corpos, O vazio onde a única esperança é que exista um Deus E um outro significado oculto a tudo que se viveu e se perdeu, Um outro lado, nem luz nem sombra na geometria da existência. Marilândia R

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