VOZ QUE SE CALA// ARREPENDIDA
DUETO DE MARILÂNDIA COM POEMA DE FLORBELA ESPANCA
VOZ QUE SE CALA// ARREPENDIDA
Amo as pedras, os astros e o luar// Que Além se calam pelos ermos
Que beijam as ervas do atalho escuro,// Com brilhos nus e fúlgidos de tiaras...
Amo as águas de anil e o doce olhar// Dum céu sempre estrelado que bebemos
Dos animais, divinamente puro.// Em radiantes impressões, flamejando às claras!
Amo a hera, que entende a voz do muro// Recitando seus cânticos de Amor
E dos sapos, o brando tilintar// Como um forte animal em doce agradecimento
De cristais que se afagam devagar,// A brilhar sem qualquer ressentimento,
E da minha charneca o rosto duro.// Sob a alfombra em ardente primor.
Amo todos os sonhos que se calam// E que se verbalizam em supremas carícias
De corações que sentem e não falam,// Dentre a mórbida embriaguez de sevícias!
Tudo o que é Infinito e pequenino!// Enfim,tudo que nos traz vozes roucas, indulgentes!
Asa que nos protege a todos nós!// Estrelando ilusões remanescentes!
Soluço imenso, eterno, que é a voz// Murmurejante na incandescência do silêncio vazio
Do nosso grande e mísero Destino!// Às vezes cúmplice de espírito macambúzio!
Florbela Espanca// Marilândia Marques Rollo
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