AS MINHAS ILUSÕES// EM DELÍRIO
Marilândia Marques Rollo em dueto com poema de Florbela Espanca
AS MINHAS ILUSÕES// EM DELÍRIO
Hora sagrada dum entardecer// Em céus de anil, sempre risonhos!
De Outono, à beira-mar, cor de safira,// A embalar-nos em águas-marinhas e sonhos,
Soa no ar uma invisível lira ...// Suspirando dentre sustenidos e bemóis...
O sol é um doente a enlanguescer ...// Carregando em seus raios o desmaio dos girassóis !
A vaga estende os braços a suster,// A ébria paisagem que dispara
Numa dor de revolta cheia de ira,// Embalsamada de magoado pranto,
A doirada cabeça que delira// Impregnada da angústia lacerante e rara...
Num último suspiro, a estremecer!// Em busca de um mundo sacrossanto!
O sol morreu ... e veste luto o mar ...// Porquanto a morte carregou o astro-rei!
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,// Sinto seus frementes passos, vacilando,
À flor das ondas, num lençol de espuma.// Sem destino, sob pétalas rubras que cinzelei.
As minhas Ilusões, doce tesoiro,// Solenemente lavradas dentre paz e êxtases...
Também as vi levar em urna de oiro,// Para terrenos de cinza e cal, miserandos,
No mar da Vida, assim ... uma por uma ...// Ora em chamas... ora em catarses!
Florbela Espanca// Marilândia Marques Rollo
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