TRAVESSIA DO EFÊMERO
Travessia do Efêmero O tempo, essa água furtiva entre os dedos, escorre e deixa apenas o encanto da memória na pele. Estou aqui, no limiar do instante que já não é, contemplando o efêmero como quem olha o mar aberto. Aprendi que a vida é uma coleção de momentos fugidios, pétalas caindo de uma flor que não se pode possuir. Nossas mãos são barcos frágeis navegando nas correntes invisíveis do que não permanece. Há uma beleza dilacerante no que não dura: na lágrima que desenha seu caminho pela face, no voo circular da folha antes de tocar o chão, no suspiro que se desfaz em névoa no inverno. Atravesso os dias como quem atravessa um rio: cada passo modifica a água e jamais retorna. O céu de hoje possui cores que nunca mais serão vistas, e teu sorriso é um relâmpago irrepetível na tempestade. Quantas vezes tentei aprisionar o instante, como quem fecha pássaros em gaiolas de palavras? Mas o poema é apenas a sombra do que senti, e as palavras, cinzas do fogo que nos consumiu. O mundo se renova em cada respiração, e somos viajantes efêmeros nesta vastidão. Não lamento a breve duração da rosa, nem a fugacidade da lua entre as nuvens. Aceito que somos feitos da mesma matéria das estrelas: brilhamos intensamente para depois nos dispersarmos no cosmos. E nesta travessia do que não permanece, encontro a única eternidade possível: O amor, que transforma o instante em in_finito, e faz da memória um santuário onde o tempo não ousa entrar com suas sandálias de areia. É nele que perduro, mesmo quando tudo passa. Marilândia

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