Rastros de Saudade
Rastros de Saudade Sob o luar funéreo que adormece, Vagam fantasmas de um amor perdido; Na alma solitária que emudece, Jaz o pranto em silêncio reprimido. Ó saudade! És punhal que dilacera O peito que por ti vive a sangrar, És como o inverno após a primavera, Que deixa flores mortas a murchar. Nas noites de vigília, quando a lua Deita seu véu de prata sobre o mar, Sinto tua presença que flutua Nos suspiros que não posso calar. Sonhos desfeitos, hálitos divinos, Memórias que consomem meu vigor; São espectros de dias cristalinos Que hoje só me trazem dissabor. Beijos não dados, frases não ouvidas, Promessas que o destino dissipou; Como folhas ao vento já caídas, São rastros do que nunca mais voltou. No leito frio onde repouso agora, Contemplo o teto como quem procura Uma luz que se apaga antes da aurora, Um consolo para esta desventura. Ébria de dor, embalo-me no abismo Dos versos que compõem meu lamento; Fiz da saudade meu romantismo, Da solidão, meu único sustento. Ah! Se pudesse ao menos encontrar No sepulcro dos versos que componho, O doce esquecimento a me embalar, Para enfim adormecer sem mais sonho! Mas a saudade, esta cruel senhora, Não permite que eu possa descansar; É fantasma que vem a qualquer hora Para em minh'alma seu punhal cravar. Rastros de ti, de nós, do que não foi, Perseguem-me nas horas silenciosas; Meu coração ferido já não dói — Está morto, como estão mortas as rosas. Marilândia

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