quarta-feira, 16 de abril de 2025

POEMA DE FP COM RÉPLICA MARI

Não sei quantas almas tenho (FP) Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem achei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que eu sou e vejo. Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem, Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: "Fui eu"? Deus sabe, porque o escreveu. Fernando Pessoa Réplica por Marilândia Pluralidade Sou multidão em silêncio, Cada instante me recria. No espelho não me reconheço, Sou estrangeiro na própria poesia. De tanto ser outros, perdi-me. Quem tem abismo não tem porto. Quem olha é apenas miragem, Quem vive não é quem respira, Atento ao caos que me habita, Dissolvo-me no que contemplo. Cada desejo que me visita É do universo e não meu tempo. Sou meu próprio labirinto, Observo-me em metamorfose, Complexo, fluido e disperso, Não sei ancorar-me onde existo. Por isso, estranho, decifro Como enigmas, meu existir. O futuro já é suspiro, O passado, cinza a fugir. Anoto à margem do vivido O que pensei ter sentido. Releio e indago: "Fui eu"? O mistério sabe, porque teceu. E neste jogo de espelhos, Entre ser tudo e ser nada, Transformo-me em versos velhos De uma história inacabada. Marilândia

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