Ausência de VINICIUS DE MORAES COM RÉPLICA DE MARILÂNDIA
Ausência Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada. Vinicius de Moraes Memória da Tua Luz (réplica de Marilândia) Guardo em meu peito a geometria dos teus gestos, como quem guarda conchas vazias de um mar distante. Os espaços que deixaste vibram como cordas de um violino antigo e teu nome persiste, latente, nas paredes do silêncio. Não busco teu retorno, mas celebro tua passagem como se celebra o voo do pássaro que não se pode aprisionar. Em minhas mãos abertas, teu perfume permanece como o sol que aquece a pedra mesmo após o crepúsculo. Deixarei que teu caminho se afaste do meu, como dois rios nascidos da mesma montanha que seguem destinos opostos até o mar imenso. Não te reclamo, não te aprisiono em meus versos. É na ausência que te faço mais presente, quando tua lembrança se ergue como lua sobre o deserto. Cada estrela me conta segredos do teu andar e o vento traduz o sussurro da tua respiração. Serás eterna em minha memória como são eternas as ondas que beijam a areia e se desfazem. E quando a noite se espalhar sobre meus olhos cansados, será tua luz o que ainda verei na escuridão completa. Levarei comigo apenas esta certeza: que te amei como se ama a liberdade, sem correntes, sem promessas, sem limites. E nisso encontro a paz dos que souberam amar e partir. Marilândia Responder, Responder a todos ou Encaminhar

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