Meio-Dia - XXXV
Meio-Dia - XXXV (PABLO NERUDA) Tua mão foi voando de meus olhos ao dia. Entrou a luz como uma roseira aberta. Areia e céu palpitavam como uma culminante colmeia cortada nas turquesas. Tua mão tocou sílabas que tilintavam, taças, almotolias com azeites amarelos, corolas, mananciais e, sobretudo, amor, amor: tua mão pura preservou as colheres. A tarde foi. A noite deslizou sigilosa sobre o sonho do homem sua cápsula celeste. Um triste olor selvagem soltou a madressilva. E tua mão voltou de seu voo voando a fechar sua plumagem que eu julguei perdida sobre meus olhos devorados pela sombra. PABLO NERUDA MARILÂNDIA EM RÉPLICA AURORA Teu olhar navegou de minhas mãos ao amanhecer. Despertou o sol como um jardim desabrochado. Mar e montanha pulsavam como uma exaltada colheita pintada em safiras vivas. Teu olhar roçou palavras que dançavam, ânforas, mananciais com méis dourados cristalinos, sementes, nascentes e, principalmente, vida, vida: teu olhar puro consagrou os momentos. A manhã avançou. O meio-dia verteu silencioso sobre a sede da terra sua taça luminosa. Um intenso perfume secreto libertou o jasmim. E teu olhar regressou de sua jornada flutuando para reclamar seu território que eu supunha esquecido sobre minhas mãos consumidas pela espera.

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