Gosto quando te calas

Gosto quando te calas Gosto quando te calas porque estás como ausente, e me ouves de longe, minha voz não te toca. Parece que os olhos tivessem de ti voado e parece que um beijo te fechara a boca. Como todas as coisas estão cheias da minha alma emerge das coisas, cheia da minha alma. Borboleta de sonho, pareces com minha alma, e te pareces com a palavra melancolia. Gosto de ti quando calas e estás como distante. E estás como que te queixando, borboleta em arrulho. E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança: Deixa-me que me cale com o silêncio teu. Deixa-me que te fale também com o teu silêncio claro como uma lâmpada, simples como um anel. És como a noite, calada e constelada. Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo. Gosto de ti quando calas porque estás como ausente. Distante e dolorosa como se tivesses morrido. Uma palavra então, um sorriso bastam. E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade. Pablo Neruda RÉPLICA DE MARILÂNDIA Amo quando adormeces Amo quando adormeces porque estás como um sonho, e te contemplo em silêncio, meu olhar não te desperta. Parece que a alma tivesse de ti se libertado e parece que a noite te guardasse desperta. Como todas as estrelas estão cheias do meu desejo flutuas no horizonte, cheia do meu desejo. Pássaro de crepúsculo, refletes minha espera, e te assemelhas à palavra serenidade. Amo quando adormeces e estás como suspensa. E estás como que flutuando, pássaro em repouso. E te observo em segredo, e meu suspiro não te alcança: Deixa-me que te vele com o descanso teu. Deixa-me que te abrigue também com teu descanso puro como um rio, simples como uma folha. És como o amanhecer, serena e luminosa. Teu sono é de nuvem, tão tranquilo e profundo. Amo quando adormeces porque estás como um sonho. Etérea e misteriosa como se fosses imortal. Um murmúrio então, um movimento bastam. E eu estou em paz, em paz de que estejas aqui ainda.