COSTURANDO DIA 7
"Solidária e solitária, sou xifópoga de mim..." Jô Tauil __________________________ Sangro-me em duas como fruta aberta ao meio no espelho partido vejo-me multiplicada em gêmeas imperfeitas (uma devora a outra) Sou a que come e a que é comida simultâneas no mesmo corpo rasgado pela fome antiga Abro-me como livro profano as páginas coladas com saliva de demônios domésticos íntimos carnívoros Minha boca é pássaro que bica as próprias vísceras e canta... As veias são fios elétricos conduzindo energia de mim para mim em circuito fechado queimando por dentro... Alimento-me desta dança macabra sagrada onde sou altar e sacrifício sacerdotisa e oferenda Minhas costelas são grades prisão voluntária onde uma parte de mim mantém a outra em cativeiro (ou será o contrário?) Transmuto-me em veneno e antídoto bebo-me inteira até a última gota de devoradora devorada No fim resta apenas o silêncio de uma digestão infinita onde me consumo e me regenero eternamente.
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