VAIDADE// CISMARENTA
VAIDADE // CISMA RENTA
Sonho que sou a Poetisa eleita, // A atravessar o mundo fervilhando de poetas,
Aquela que diz tudo e tudo sabe, // Haurindo avidamente versos imaginários
Que tem a inspiração pura e perfeita, // Assim como os impolutos profetas
Que reúne num verso a imensidade! // A aglutinar vaticínios em augustos corolários!
Sonho que um verso meu tem claridade// Jorrando suavidade nos gloriosos caminhos
Para encher todo o mundo! E que deleita // A compor castos , cismarentos monólogos
Mesmo aqueles que morrem de saudade! // Preenchendo a alma de poemas comezinhos!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!// Que plenificam os corações com ardentes diálogos!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo... // Que meu "meu-lírico" transcende o Infinito!
Aquela de saber vasto e profundo, // Sob um clima de flama, sinalizando o erudito,
Aos pés de quem a terra anda curvada! È que esta virgem tem sempre um dom sublime!
E quando mais no céu eu vou sonhando,// Em pomposos brilhos e cores imortais,
E quando mais no alto ando voando, // Penetro em grilhões e legiões fundamentais,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!... // Despertando então, nua, em terreno íngrime!
Florbela Espanca// Marilândia Marques Rollo
Os versos acima falam sobre autovalorização, e parecem, a princípio, um elogio do sujeito poético a si próprio.
Se nos primeiros versos encontramos um eu-lírico que se vangloria da sua condição de poeta e do seu labor lírico, nas estrofes finais vemos essa imagem ser desconstruída.
Nos últimos três versos percebemos que tudo não passou de um sonho e que, na verdade, o poeta é mais alguém que sonha do que alguém que propriamente é confiante em si mesmo.
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