sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

VAIDADE// CISMARENTA

VAIDADE // CISMA RENTA



Sonho que sou a Poetisa eleita, // A atravessar o mundo fervilhando de poetas,
Aquela que diz tudo e tudo sabe, //  Haurindo avidamente versos imaginários
Que tem a inspiração pura e perfeita, // Assim como os impolutos profetas
Que reúne num verso a imensidade! //  A aglutinar vaticínios em augustos  corolários!


 Sonho que um verso meu tem claridade// Jorrando suavidade nos gloriosos caminhos 
 Para encher todo o mundo! E que deleita // A compor castos , cismarentos monólogos
Mesmo aqueles que morrem de saudade! // Preenchendo a alma  de poemas comezinhos!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!//  Que plenificam os corações com ardentes diálogos!
 


Sonho que sou Alguém cá neste mundo... //  Que meu "meu-lírico" transcende o Infinito!
Aquela de saber vasto e profundo, // Sob um clima de flama, sinalizando o erudito,
Aos pés de quem a terra anda curvada! È que esta virgem tem sempre um dom sublime!
 

E quando mais no céu eu vou sonhando,// Em pomposos brilhos e cores imortais,
E quando mais no alto ando voando, //  Penetro em grilhões e legiões fundamentais,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!... // Despertando então, nua, em terreno íngrime!

Florbela Espanca// Marilândia Marques Rollo








 Os versos acima falam sobre autovalorização, e parecem, a princípio, um elogio do sujeito poético a si próprio. Se nos primeiros versos encontramos um eu-lírico que se vangloria da sua condição de poeta e do seu labor lírico, nas estrofes finais vemos essa imagem ser desconstruída. Nos últimos três versos percebemos que tudo não passou de um sonho e que, na verdade, o poeta é mais alguém que sonha do que alguém que propriamente é confiante em si mesmo. 

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