quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

ÁRVORES DO ALENTEJO// MUSICALIDADE DAS PRECES

ÁRVORES DO ALENTEJO// MUSICALIDADE DAS PRECES 


 Horas mortas... Curvada aos pés do Monte// Visão que a fluorecente luz estampa 
A planície é um brasido... e, torturadas,// Excentricamente retorcida...assim, inflamadas, 
As árvores sangrentas, revoltadas,// E as frágeis, débeis quimeras alucinadas,
 Gritam a Deus a bênção duma fonte!// Rogam-Lhe divinais unções para bendizer a tampa!



 E quando, manhã alta, o sol posponte// E a brisa perfumada, cheirando a lavandas
 A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,// Na musicalidade das cirandas, 
 Esfíngicas, recortam desgrenhadas// Transcendentes, que desfiam em segredos 
 Os trágicos perfis no horizonte!// Bem como os tresloucados contornos dos arvoredos!




 Árvores! Corações, almas que choram,// Folhas dançarimas, ramos entrelaçados, 
Almas iguais à minha, almas que imploram// No exílio dos meus sonhos abraçados 
Em vão remédio para tanta mágoa!// Que oscila embriagado, pairando dentre nódoas! 



 Árvores! Não choreis! Olhai e vede:// Folhagens bailarinas, encarai a Natureza: -
 Também ando a gritar, morta de sede,// _ Vede como deliram, sob as densas névoas, 
Pedindo a Deus a minha gota de água!// Suplicando a ínfima porção da pureza!




 Florbela Espanca// Marilândia Marques Rollo

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