(SEM TÍTULO)// ARTE VISUAL (DUETO DE FLORBELA E MARILÂNDIA)
Dueto de Marilândia Marques Rollo num poema de Florbela Espanca
(SEM TÍTULO)// ARTE VISUAL
Passam no teu olhar nobres cortejos,// Quando entrevejo algum fantasma trêmulo,
Frotas, pendões ao vento sobranceiros,// Chusmas, bandeiras estiradas e altivas,
Lindos versos de antigos romanceiros,// Belas estrofes d'algum poeta esdrúxulo,
Céus do Oriente, em brasa, como beijos,// Espaços do Levante, quais regiôes de águas-vivas,
Mares onde não cabem teus desejos;// Imensidades que assim enchem as solidões
Passam no teu olhar mundos inteiros,// Revolvendo teus sonhos de Sol, de Brumas,
Todo um povo de heróis e marinheiros,// A esquadrinhar as ondas das amplidões,
Lanças nuas em rútilos lampejos;// Com as hastas sem ornatos, penetrando nas espumas...
Passam lendas e sonhos e milagres!// A resvalar-se indulgentemente!
Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres,// Derrapam o continente, a sombra de D. Henrique,
Em centelhas de crença e de certeza!// Nas chispas de convicções, de crendices, submissamente!
E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim,// Ei-lo que mais belo, mais prodigioso,
Amor, julgo trazer dentro de mim// Bem juntinho ao coração, e que nessa loucura fique
Um pedaço da terra portuguesa!// Esse rincão por demais portentoso!
Florbela Espanca// Marilândia Marques Rollo
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