terça-feira, 29 de dezembro de 2020

(SEM TÍTULO)// ARTE VISUAL (DUETO DE FLORBELA E MARILÂNDIA)

Dueto de Marilândia Marques Rollo num poema de Florbela Espanca 


 (SEM TÍTULO)// ARTE VISUAL 



 Passam no teu olhar nobres cortejos,// Quando entrevejo algum fantasma trêmulo, 
Frotas, pendões ao vento sobranceiros,// Chusmas, bandeiras estiradas e altivas, 
Lindos versos de antigos romanceiros,// Belas estrofes d'algum poeta esdrúxulo, 
Céus do Oriente, em brasa, como beijos,// Espaços do Levante, quais regiôes de águas-vivas, 




 Mares onde não cabem teus desejos;// Imensidades que assim enchem as solidões 
Passam no teu olhar mundos inteiros,// Revolvendo teus sonhos de Sol, de Brumas, 
Todo um povo de heróis e marinheiros,// A esquadrinhar as ondas das amplidões, 
 Lanças nuas em rútilos lampejos;// Com as hastas sem ornatos, penetrando nas espumas...


 Passam lendas e sonhos e milagres!// A resvalar-se indulgentemente! 
Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres,// Derrapam o continente, a sombra de D. Henrique, 
 Em centelhas de crença e de certeza!// Nas chispas de convicções, de crendices, submissamente! 



 E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim,// Ei-lo que mais belo, mais prodigioso, 
Amor, julgo trazer dentro de mim// Bem juntinho ao coração, e que nessa loucura fique 
Um pedaço da terra portuguesa!// Esse rincão por demais portentoso!



 Florbela Espanca// Marilândia Marques Rollo

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial