DUETO MARI//FLOR
Marilândia Marques Rollo em dueto com poema de Florbela Espanca
ANGÚSTIA// DEVASTADORA
Tortura do pensar! Triste lamento!// Em palco de pesar e de agonia!
Quem nos dera calar a tua voz!// Que ondula e ondula e palpita em sintonia!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,// Conter os êxtases e as pazes...
Estrangular a hidra num momento!// Em que erra nas mórbidas solidões contumazes!
E não sequer pensar! ... e o pensamento// Rememorando, a recolher-se do passado tremente
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós ...// Eis que a vertigem lembra-nos ilusões insanas...
Querer apagar no céu – ó sonho atroz! –// A nos afligir, angustiando-nos diuturnamente!
O brilho duma estrela, com o vento! ...// Evapora, carregando as virulências profanas!
E não se apaga, não ... nada se apaga!// E pensamentos mil, jogados num sombrio desvão,
Vem sempre rastejando como a vaga ...// A mover-se, poeirentos, empreendendo voos miraculosos!
Vem sempre perguntando: “O que te resta? ...”// Repetindo amargos delírios ardilosos!
Ah! não ser mais que o vago, o infinito!// Sob a universal memória das Esferas!
Ser pedaço de gelo, ser granito,// Tal como atrações bizarras e severas,
Ser rugido de tigre na floresta!// Que aos próprios pares daria medo, em vão!
Florbela Espanca// Marilândia Marques Rollo
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