terça-feira, 10 de novembro de 2020

O MEU ORGULHO

Dueto de Marilândia em versos de Florbela Espanca 

 O MEU ORGULHO// TRANSCENDENTE VISÃO 


 Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera// Alma de sonhadora. Saudade de qualquer coisa... 
 Não me lembrar! Em tardes dolorosas// Voltando aos des_enganos primitivos, 
 Lembro-me que fui a Primavera// Na eflorescência dos lilases 
 Que em muros velhos faz nascer as rosas!// E que no in_finito se debruçam! 
 As minhas mãos outrora carinhosas// Sublinhavam a presença da memória, 
 Pairavam como pombas... Quem soubera// De maviosa suavidade... Desta minh'alma a solidão de prantos! 
 Porque tudo passou e foi quimera,// Presos nas mesmas tramas, em secreta magia... 
 E porque os muros velhos não dão rosas!// De tanto sonho findo que a vida pisou! 
 O que eu mais amo é que mais me esquece...// Assim, me vergo em sobressaltos! 
 E eu sonho: "Quem olvida não merece..."// A inutilidade das lágrimas que rolam. 
 E já não fico tão abandonada! // Pois a sede do amor me faz melhor! 
 Sinto que valho mais, mais pobrezinha:// Por entre bizarras florações purpúreas. 
 Que também é orgulho ser sozinha,// Qual manhã sem sol e sem música 
 E também é nobreza não ter nada!// Ter apenas, o escuro do caminho! 



 Florbela Espanca e Marilândia Marques Rollo

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