POEMA DE CANÇÃO SOBRE A ESPERANÇA (ÁLVARO DE CAMPOS)
POEMA DE CANÇÃO SOBRE A ESPERANÇA Dá-me lírios, lírios E rosas também. Dá-me rosas, rosas, E lírios também, Crisântemos, dálias, Violetas, e os girassóis Acima de todas as flores... Deita-me as mancheias, Por cima da alma, Dá-me rosas, rosas, E lírios também... Meu coração chora Na sombra dos parques, Não tem quem o console Verdadeiramente, Exceto a própria sombra dos parques Entrando-me na alma, Através do pranto. Dá-me rosas, rosas, E lírios também... Minha dor é velha Como um frasco de essência cheio de pó. Minha dor é inútil Como uma gaiola numa terra onde não há aves, E minha dor é silenciosa e triste Como a parte da praia onde o mar não chega. Chego às janelas Dos palácios arruinados E cismo de dentro para fora Para me consolar do presente. Dá-me rosas, rosas, E lírios também... Mas por mais rosas e lírios que me dês, Eu nunca acharei que a vida é bastante. Faltar-me-á sempre qualquer coisa, Sobrar-me-á sempre de que desejar, Como um palco deserto. Por isso, não te importes com o que eu penso, E muito embora o que eu te peça Te pareça que não quer dizer nada, Minha pobre criança tísica, Dá-me das tuas rosas e dos teus lírios, Dá-me rosas, rosas, E lírios também... (Álvaro de Campos: heterónimo de Fernando Pessoa) RÉPLICA DE MARILÂNDIA
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