DITADOS POPULARES
Confissões de Cal e Cimento As paredes têm ouvidos, amor meu, e guardam em seu silêncio de pedra os segredos que sussurramos na penumbra dos quartos fechados. Elas escutaram teus gemidos quando a solidão te visitava às três da manhã, conhecem o som dos teus passos inquietos percorrendo os corredores da angústia. As paredes sabem de cor as palavras que nunca disseste, aquelas que ficaram presas entre os dentes e o medo. Elas viram as lágrimas escorrerem pela face do tempo, ouviram o eco dos beijos que se perderam no ar. Oh, paredes cúmplices, testemunhas mudas de nossa intimidade, vocês que absorveram o calor dos nossos corpos entrelaçados. Guardiãs dos nossos silêncios, vocês conhecem melhor que ninguém a geografia secreta dos nossos corações partidos. As paredes têm ouvidos, sim, e memória de cal viva, arquivam cada suspiro em seus poros ancestrais. Quando partir desta casa, deixarei gravada nas paredes a música dos meus dias, o poema dos meus amores impossíveis. E elas continuarão escutando, pacientes e eternas, os novos segredos que virão povoar estes espaços vazios. Porque as paredes não morrem, amor, elas apenas mudam de história, colecionando vozes como quem coleciona flores secas entre as páginas de um livro que ninguém mais lerá.

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