"A POESIA EXPRESSA IDEIAS E EMOÇÕES, MAS NUNCA DE MANEIRA CLARA, PARA , ATRAVÉS DO MISTÉRIO E DO ENIGMA, ATIVAR A IMAGINAÇÃO DO LEITOR."
quinta-feira, 1 de maio de 2025
COSTURANDO DIA 1 DE MAIO
“Porque a escuridão só existe dentro de nós”
Jô Tauil
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Essa escuridão interior espelha
o mar que guarda suas profundezas em segredo,
como a noite abraça seus próprios fantasmas,
e como as raízes conhecem o solo sem nunca ver o céu.
É uma escuridão antiga, de tempos sem nome,
que carregamos como herança das estrelas moribundas,
como gritos silenciados nas gargantas dos antepassados,
tal o primeiro medo quando a luz se apagou.
Esta escuridão não é inimiga da luz,
é sua irmã, sua cúmplice, sua condição primeira.
Antes do sol, já existia o negro absoluto
e será o que restará quando o último astro se desfizer.
Confesso que amo minha escuridão interior,
pois nela germina cada poema ainda não escrito,
nela se banham os desejos sem pudor ou censura,
nela sou verdadeiramente livre, selvagem, in_finita.
Quem diz que a escuridão é ausência
não entende que ela é presença absoluta,
matéria densa de todas as possibilidades,
útero cósmico onde nascem novos mundos.
Como poderiam minhas mãos encontrar teu corpo
se não conhecessem primeiro o vazio?
Como poderia minha boca pronunciar teu nome
se não emergisse do silêncio primordial?
Esta escuridão me habita como sangue,
como medula, como o espaço entre os pensamentos.
Não a temo mais, nem tento negá-la,
ela é a tinta com que escrevo minha existência.
Tu também, amado, carregas tua noite pessoal,
tua lua negra, teu abismo particular,
e quando nos amamos, são nossas sombras que dançam
enquanto nossos corpos são apenas o palco iluminado.
Porque a escuridão existe dentro de nós
para nos lembrar que fomos feitos da mesma matéria
que compõe o vazio entre constelações
e o mistério que persiste no fundo dos oceanos.
De todas as coisas que construí com minhas mãos,
a mais honesta foi aceitar esta noite interior,
não como maldição, mas como dom sagrado,
não como ausência de luz, mas como luz ainda não revelada.
Marilândia
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