terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

FOLHAS DE ROSA// SUPREMA FLORAÇÃO (Marilândia em dueto com poema de Florbela Espanca)

FOLHAS DE ROSA// SUPREMA FLORAÇÃO Todas as prendas que me deste, um dia,// Agasalhadas há muito na galeria de tu'alma Guardei-as, meu encanto, quase a medo,// Para olhar e sentir com sutil caridade, E quando a noite espreita o pôr do sol,/ Fica mais doce o inútil, o que me acalma Eu vou falar com elas em segredo...// Num bem estar de religiosa sinceridade... E falo-lhes d’amores e de ilusões,// Em soluços tristonhos e comovidos, Choro e rio com elas, mansamente...// Embebedada do sinistro vinho... Pouco a pouco o perfume de outrora// Nos meus sentidos envolvidos, requintados Flutua em volta delas, docemente...// Num mundo estranho,mundo comezinho... Pelo copinho de cristal e prata// Quebrando augustos timbres do Mistério Bebo uma saudade estranha e vaga,// Que a febre das insânias adormece... Uma saudade imensa e infinita// Sob simbolismo de desdém funéreo Que, triste, me deslumbra e m’embriaga// Dentre surdina da lágrima que estremece O espelho de prata cinzelada,// Através de raios fluídicos A doce oferta que eu amava tanto,// Numa luxúria deslumbrante, aveludada Que refletia outrora tantos risos,// A espelhar sons tardios, porém rítmicos E agora reflete apenas pranto,// Sob ondeada sensação transfigurada! E o colar de pedras preciosas,// Dentre os nevoeiros do luar fluindo De lágrimas e estrelas constelado,// À esperar-te de luz maravilhados Resumem em seus brilhos o que tenho// Basta crer in_definidamente, usufruindo De vago e de feliz no meu passado...// Para gozar meus caminhos rendilhados... Mas de todas as prendas, a mais rara,// A penetrar nos dons que fatalmente selam Aquela que mais fala à fantasia,// Ao arrancar grilhões que nos flagelam São as folhas daquela rosa branca// Porquanto numa luz i_mortal e transcendente Que a meus pés desfolhaste, aquele dia...// No tempo e tanto, por demais surpreendente! Florbela Espanca// Marilândia Marues Rollo

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