sábado, 12 de dezembro de 2020

VOLÚPIA// INSANA









Dueto de Marilândia Marques Rollo em poema de Florbela Espanca


VOLÚPIA // INSANA
 

No divino impudor da mocidade,// A sede despudorada de místicos desejos... 
 Nesse êxtase pagão que vence a sorte,// Estertores que vibram no seio ardente, 
 Num frêmito vibrante de ansiedade,// E que pairam numa ventura anelante 
 Dou-te o meu corpo prometido à morte!// Embelezando tudo entre inverossímeis arpejos! 



A sombra entre a mentira e a verdade...//  Emitindo os sons de distante realidade!
A nuvem que arrastou o vento norte... - // Numa estranha e tenebrosa calmaria...
Meu corpo! Trago nele um vinho forte: // A carregar estremecida saudade:
Meus beijos de volúpia e de maldade! //  Enquanto aguçam os crentes em romaria!


 Trago dálias vermelhas no regaço... // Num grito infernal de atroz luxúria!
 São os dedos do sol quando te abraço, // Tais como os raios de luz no poente,
 Cravados no teu peito como lanças!// Sem qualquer gemido de penúria!


 E do meu corpo os leves arabescos // Rodopiam ziguezagueando
 Vão-te envolvendo em círculos dantescos// Frementes emoções desencadeando
 Felinamente, em voluptuosas danças... // A seduzir, selvaticamente !galhardamente)!


 Florbela Espanca// Marilândia Marques Rollo 

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