quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

MINHA CULPA// TRÁGICA RUÍNA

MINHA CULPA// TRÁGICA RUÍNA Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem// Quando e quantas vezes o poeta finge... Quem sou?! Um fogo-fátuo, uma miragem...// Talvez um espectro langoroso! Sou um reflexo... um canto de paisagem// Quiçá a débil sombra na moldura duma esfinge, Ou apenas cenário! Um vaivém...// Quem sabe molduras dos versos de um poeta indecoroso? Como a sorte: hoje aqui, depois além!// Que sempre a curiosidade arrasta e des_consola! Sei lá quem Sou?! Sei lá! Sou a roupagem// No horror de envelhecer qual infausto tormento Dum doido que partiu numa romagem// Junto a romeiros carentes de esmola E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...// Numa embriaguez de perpétuo constrangimento! Sou um verme que um dia quis ser astro...// No tremor mais glorioso que um sonho! Uma estátua truncada de alabastro...// Esmagando um manuscrito sob o pé tremente... Uma chaga sangrenta do Senhor...// Aflorada num líquido bisonho! Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,// Tenho a im_pressão de graça e extravagância Num mundo de vaidades e pecados,// Sob restos de humanidade em decrépita arrogância! Sou mais um mau, sou mais um pecador...// Cruel, sinistro, in_clemente! Florbela Espanca, em "Charneca em Flor"

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