"A POESIA EXPRESSA IDEIAS E EMOÇÕES, MAS NUNCA DE MANEIRA CLARA, PARA , ATRAVÉS DO MISTÉRIO E DO ENIGMA, ATIVAR A IMAGINAÇÃO DO LEITOR."
quinta-feira, 12 de junho de 2025
O Lamento De Não Ser
O Lamento De Não Ser
Eu no silêncio não lamento que se vá
A primavera, o já amanhecer
Das folhas que ontem verdes ainda estavam
Sob a brisa morna e o dia a florescer.
Nem lamento que já não me procures, que se apague
O brilho que havia em teus olhos, que também chegue
Uma estação do partir, que se fragmente
E o vazio permaneça, sem que nada me chegue.
Mais que tudo lamento já não me importar,
Sim, lamento a tragédia de ser outro na essência,
De me ter tornado estranho sem estranhamento,
De ter perdido a mim mesma sem perceber a ausência.
Não é o ontem perdido em que me conheci que lamento.
Lamento não me reconhecer já por isso ser comum.
Lamento ter-me apagado, lamento não conseguir sentir
Com nostalgia o tempo em que fui alguém.
Isso é que lamento, sim, com as lágrimas mais fundas
Que guardam em si os segredos mais cruéis —
A morte silenciosa da identidade,
O extinguir da alma, mais terrível que o dos corpos,
O vazio onde a única esperança é que exista um Deus
E um outro significado oculto a tudo que se viveu e se perdeu,
Um outro lado, nem luz nem sombra na geometria da existência.
Marilândia
R
Nenhum comentário:
Postar um comentário