• A paz é uma criança

    que ainda não aprendeu a odiar.

    É um velho que esqueceu as armas

    e se deita sob uma oliveira

    para ouvir o vento contar histórias.


    Ela mora nos gestos pequenos:

    o pão dividido sem peso,

    a mão que afaga sem dono,

    o olhar que se abre como o mar

    sem exigir passaporte.


    A paz é irmã do tempo —

    não grita, não exige.

    Mas cresce como raízes

    dentro dos corações exaustos

    dos que já viram demais.


    Ela não se impõe como rei,

    não se curva como servo.

    É a dança entre dois silêncios:

    o da alma que perdoa

    e o do mundo que escuta.


    Se a encontrares, não a chames.

    Acolhe-a como se fosse tua mãe

    voltando para casa

    depois de milênios de exílio.