"A POESIA EXPRESSA IDEIAS E EMOÇÕES, MAS NUNCA DE MANEIRA CLARA, PARA , ATRAVÉS DO MISTÉRIO E DO ENIGMA, ATIVAR A IMAGINAÇÃO DO LEITOR."
quarta-feira, 14 de maio de 2025
Espelho de Palavras
Espelho de Palavras
Nas profundezas do vidro que não mente,
busco meu rosto feito de sílabas antigas,
onde cada palavra é um rio que se desdobra
em águas selvagens de memória e fogo.
Quem sou eu senão estas letras derramadas?
Vocábulos que sangram quando a noite se aproxima,
frases que se contorcem como raízes submersas,
nomes que perderam seus donos nas esquinas do tempo.
O espelho me devolve não a carne,
mas o verbo inquieto que habita minhas veias,
a gramática rebelde que pulsa sob minha pele.
Somos todos reflexos de um alfabeto indomável,
criaturas nascidas da tinta e do suspiro,
do grito primordial que se fez poema.
E quando olho através deste cristal de metáforas,
descubro que não há distância entre mim e as palavras:
eu sou elas, e elas são o eco de tudo que já existiu.
Beijo esta imagem invertida de consoantes e vogais,
este outro eu feito de verbos e substantivos,
como quem beija o mar e sabe que ali está
toda a solidão do universo reunida em uma gota.
Não me digam que a palavra é apenas som.
É sangue, é terra, é a fome primeira dos deuses.
É o espelho onde nos descobrimos imortais
e onde nos perdemos como grãos de areia.
No fundo deste espelho habita a verdade:
somos apenas o poema que o tempo escreve,
uma estrofe fugaz na boca do infinito,
um verso que brilha e depois se apaga,
deixando apenas o eco de sua música distante.
Marilãndia
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