"A POESIA EXPRESSA IDEIAS E EMOÇÕES, MAS NUNCA DE MANEIRA CLARA, PARA , ATRAVÉS DO MISTÉRIO E DO ENIGMA, ATIVAR A IMAGINAÇÃO DO LEITOR."
quinta-feira, 17 de abril de 2025
VERSOS DE GARCIA LORCA COM MINHA RÉPLICA
ESTE É O PRÓLOGO
Deixaria neste livro
toda a minha alma.
este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.
Que pena dos livros
que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!
Que tristeza tão funda
é olhar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta!
Ver passar os espectros
de vida que se apagam,
ver o homem desnudo
em Pégaso sem asas,
ver a vida e a morte,
a síntese do mundo,
que em espaços profundos
se olham e se abraçam.
Um livro de poesias
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,
e a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes incute nos peitos
- entranháveis distâncias.
O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchas
de chorar o que ama.
O poeta é o médium
da Natureza
que explica sua grandeza
por meio de palavras.
O poeta compreende
todo o incompreensível
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chamas.
Sabe que as veredas
são todas im_possíveis,
e por isso de noite
vai por elas com calma.
Nos livros de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristes
e eternas caravanas
que fizeram ao poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.
Poesia é amargura,
mel celeste que emana
de um favo invisível
que as almas fabricam.
Poesia é o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
corações e chamas.
Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
sem rumo a nossa barca.
Livros doces de versos
sãos os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
suas estrofes de prata.
Oh! que penas tão fundas
e nunca remediadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam!
Deixaria neste livro
toda a minha alma...
Federico Garcia Lorca
RÉPLICA DE MARILÂNDIA
Versos sobre a Natureza da Poesia
Deixaria nestas linhas
o meu ser mais verdadeiro,
palavras que testemunharam
amanheceres e segredos.
Que dor causam as palavras
que nos enchem de estrelas,
e depois, como suspiros,
se desvanecem completas.
Que profunda melancolia
habita nas telas pintadas
com tintas de sofrimento
que um coração derrama.
Observar as sombras fugidias
de momentos que se apagam,
ver o sonhador despido
de suas ilusões aladas.
Entre vida e morte paira
o mistério do uni_verso,
que nos abismos do tempo
se contemplam e se enlaçam.
Um caderno de poemas
é outono silencioso:
versos são folhas caídas
sobre a página em branco,
e a voz que os declama
é brisa de madrugada
que lhes insufla sentido
— distâncias in_esgotáveis.
O poeta é árvore antiga
com frutos de melancolia
e folhas que desbotaram
de chorar o que mais queria.
O poeta é tradutor
da linguagem da Natureza
que desvenda seus segredos
através de simples letras.
O poeta compreende
o que ninguém mais entende
e aquilo que parece hostil,
ele, com carinho, atende.
Sabe que todos os caminhos
são quase in_transponíveis,
e mesmo assim, quando escurece,
os percorre sem receios.
Nas páginas dos poemas,
entre rosas de memória,
transitam as eternas
e inquietas caravanas
que habitam o coração do poeta
quando chora ao entardecer,
cercado e atravessado
por suas próprias visões.
Poesia é doce tormento,
néctar divino que flui
de uma in_visível colmeia
que as almas constroem.
Poesia é transformar
o im_possível em palpável.
Lira que em vez de cordas
tem corações pulsantes.
Poesia é a travessia
que empreendemos com fervor,
ignorando para onde
nos leva a nossa embarcação.
Livros serenos de versos
são constelações que deslizam
pelo silêncio profundo
rumo ao reino do In_finito,
escrevendo na escuridão
suas estrofes luminosas.
Ah! que dores in_dizíveis
e nunca apaziguadas,
as vozes comovidas
que os poetas cantam!
Deixaria nestas linhas
o meu ser mais verdadeiro...
Marilândia
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