"A POESIA EXPRESSA IDEIAS E EMOÇÕES, MAS NUNCA DE MANEIRA CLARA, PARA , ATRAVÉS DO MISTÉRIO E DO ENIGMA, ATIVAR A IMAGINAÇÃO DO LEITOR."
quarta-feira, 16 de abril de 2025
Rastros de Saudade
Rastros de Saudade
Sob o luar funéreo que adormece,
Vagam fantasmas de um amor perdido;
Na alma solitária que emudece,
Jaz o pranto em silêncio reprimido.
Ó saudade! És punhal que dilacera
O peito que por ti vive a sangrar,
És como o inverno após a primavera,
Que deixa flores mortas a murchar.
Nas noites de vigília, quando a lua
Deita seu véu de prata sobre o mar,
Sinto tua presença que flutua
Nos suspiros que não posso calar.
Sonhos desfeitos, hálitos divinos,
Memórias que consomem meu vigor;
São espectros de dias cristalinos
Que hoje só me trazem dissabor.
Beijos não dados, frases não ouvidas,
Promessas que o destino dissipou;
Como folhas ao vento já caídas,
São rastros do que nunca mais voltou.
No leito frio onde repouso agora,
Contemplo o teto como quem procura
Uma luz que se apaga antes da aurora,
Um consolo para esta desventura.
Ébria de dor, embalo-me no abismo
Dos versos que compõem meu lamento;
Fiz da saudade meu romantismo,
Da solidão, meu único sustento.
Ah! Se pudesse ao menos encontrar
No sepulcro dos versos que componho,
O doce esquecimento a me embalar,
Para enfim adormecer sem mais sonho!
Mas a saudade, esta cruel senhora,
Não permite que eu possa descansar;
É fantasma que vem a qualquer hora
Para em minh'alma seu punhal cravar.
Rastros de ti, de nós, do que não foi,
Perseguem-me nas horas silenciosas;
Meu coração ferido já não dói —
Está morto, como estão mortas as rosas.
Marilândia
Nenhum comentário:
Postar um comentário