"A POESIA EXPRESSA IDEIAS E EMOÇÕES, MAS NUNCA DE MANEIRA CLARA, PARA , ATRAVÉS DO MISTÉRIO E DO ENIGMA, ATIVAR A IMAGINAÇÃO DO LEITOR."
segunda-feira, 14 de abril de 2025
Meio-Dia - XXXV
Meio-Dia - XXXV (PABLO NERUDA)
Tua mão foi voando de meus olhos ao dia.
Entrou a luz como uma roseira aberta.
Areia e céu palpitavam como uma
culminante colmeia cortada nas turquesas.
Tua mão tocou sílabas que tilintavam, taças,
almotolias com azeites amarelos,
corolas, mananciais e, sobretudo, amor,
amor: tua mão pura preservou as colheres.
A tarde foi. A noite deslizou sigilosa
sobre o sonho do homem sua cápsula celeste.
Um triste olor selvagem soltou a madressilva.
E tua mão voltou de seu voo voando
a fechar sua plumagem que eu julguei perdida
sobre meus olhos devorados pela sombra.
PABLO NERUDA
MARILÂNDIA EM RÉPLICA
AURORA
Teu olhar navegou de minhas mãos ao amanhecer.
Despertou o sol como um jardim desabrochado.
Mar e montanha pulsavam como uma
exaltada colheita pintada em safiras vivas.
Teu olhar roçou palavras que dançavam, ânforas,
mananciais com méis dourados cristalinos,
sementes, nascentes e, principalmente, vida,
vida: teu olhar puro consagrou os momentos.
A manhã avançou. O meio-dia verteu silencioso
sobre a sede da terra sua taça luminosa.
Um intenso perfume secreto libertou o jasmim.
E teu olhar regressou de sua jornada flutuando
para reclamar seu território que eu supunha esquecido
sobre minhas mãos consumidas pela espera.
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