"A POESIA EXPRESSA IDEIAS E EMOÇÕES, MAS NUNCA DE MANEIRA CLARA, PARA , ATRAVÉS DO MISTÉRIO E DO ENIGMA, ATIVAR A IMAGINAÇÃO DO LEITOR."
sábado, 19 de abril de 2025
mais um João Cabral
Cruz e Pedra
(à maneira de João Cabral de Melo Neto)
A cruz não era de ouro.
Nem moldada em ideia.
Era madeira bruta,
fixada com prego e tempo.
Não havia coros.
Nem lágrimas líricas.
Só sol duro no rosto,
e sede. Sede real, de boca seca.
O corpo caiu
como cai o corpo
de quem trabalha o dia inteiro,
e no fim, apaga.
A pedra era peso.
Pedra de fato.
Fechava o túmulo
como fecham portas: sem poesia.
Mas o que veio depois
não foi clarim,
nem canto etéreo.
Foi o gesto mais concreto:
o corpo de pé,
a pedra empurrada,
o espaço re_aberto.
Ressurreição:
não milagre florido,
mas insistência do vivo
em não caber no morto.
Marilândia
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