"A POESIA EXPRESSA IDEIAS E EMOÇÕES, MAS NUNCA DE MANEIRA CLARA, PARA , ATRAVÉS DO MISTÉRIO E DO ENIGMA, ATIVAR A IMAGINAÇÃO DO LEITOR."
segunda-feira, 14 de abril de 2025
ERRANTE (fe) ÉPLICA DE MARILÂNDIA
ERRANTE (FLORBELA ESPANCA)
Meu coração da cor dos rubros vinhos
Rasga a mortalha do meu peito brando
E vai fugindo, e tonto vai andando
A perder-se nas brumas dos caminhos.
Meu coração o místico profeta,
O paladino audaz da desventura,
Que sonha ser um santo e um poeta,
Vai procurar o Paço da Ventura...
Meu coração não chega lá decerto...
Não conhece o caminho nem o trilho,
Nem há memória desse sítio incerto...
Eu tecerei uns sonhos irreais...
Como essa mãe que viu partir o filho,
Como esse filho que não voltou mais!
Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"
RÉPLICA DE MARILÂNDIA
Peregrino
Meu coração, farol de luz errante,
Rompe a prisão de ossos e de espinhos,
E vai, qual nau sem bússola ou comandante,
Perdendo-se na névoa dos destinos.
Meu coração, oráculo insensato,
Cavaleiro das causas impossíveis,
Que aspira ser vulcão e ser regato,
Persegue astros e sonhos intangíveis...
Meu coração jamais alcança o porto,
Não decifra as estrelas nem o mapa,
Nem há lembranças desse éden morto...
Bordarei com suspiros meus enganos...
Como a terra que vê a chuva que escapa,
Como a onda que beija e foge há mil anos!
Marilândia
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