"A POESIA EXPRESSA IDEIAS E EMOÇÕES, MAS NUNCA DE MANEIRA CLARA, PARA , ATRAVÉS DO MISTÉRIO E DO ENIGMA, ATIVAR A IMAGINAÇÃO DO LEITOR."
sábado, 12 de abril de 2025
Coração que Verseja
Coração que Verseja
Incendeio-me por dentro. as palavras
são labaredas azuis no fundo da garganta.
alimentam-se da carne escura do pensamento,
crescem como erva daninha entre os ossos.
Meu coração: alquimista louco
transmutando sangue em tinta,
dor em substantivo,
febre em verbo.
Quanto pesa um poema antes de nascer?
a pedra bruta das palavras ainda por dizer
é mais densa que chumbo.
Carrego-a nas costelas,
arquitetura provisória
que dói e pulsa.
A poesia é um animal selvagem que me habita.
dorme em minhas vísceras,
sonha na medula dos meus verbos.
Às vezes acorda faminta,
e devora minha língua,
deixando apenas o osso branco do silêncio.
O coração verseja em alfabeto de fogo.
escreve nas paredes das veias,
caligrafia elétrica,
gramática de espasmos.
Não compreendo esta linguagem,
apenas a traduzo.
Meu corpo: território ocupado
por esta insurreição de metáforas.
cada célula, um verso em potencial.
cada nervo, uma linha in_acabada.
O sangue circula em pentâmetros iâmbicos.
Este poema não foi escrito.
foi extraído como minério,
arrancado como um dente,
desenterrado como um cadáver
que se recusa a morrer.
O coração que verseja não conhece paz.
é um músculo insone,
perpétuo movimento de sístole e diástole,
contração e expansão do uni_verso interior.
Não há trégua nesta liturgia visceral.
Versejo, logo existo.
Desversejo, logo morro.
Entre uma coisa e outra,
este intervalo frágil
a que chamamos Vida.
Marilândia
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