"A POESIA EXPRESSA IDEIAS E EMOÇÕES, MAS NUNCA DE MANEIRA CLARA, PARA , ATRAVÉS DO MISTÉRIO E DO ENIGMA, ATIVAR A IMAGINAÇÃO DO LEITOR."
quinta-feira, 10 de abril de 2025
Ausência de VINICIUS DE MORAES COM RÉPLICA DE MARILÂNDIA
Ausência
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são
doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente
exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande
íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Vinicius de Moraes
Memória da Tua Luz (réplica de Marilândia)
Guardo em meu peito a geometria dos teus gestos,
como quem guarda conchas vazias de um mar distante.
Os espaços que deixaste vibram como cordas de um violino antigo
e teu nome persiste, latente, nas paredes do silêncio.
Não busco teu retorno, mas celebro tua passagem
como se celebra o voo do pássaro que não se pode aprisionar.
Em minhas mãos abertas, teu perfume permanece
como o sol que aquece a pedra mesmo após o crepúsculo.
Deixarei que teu caminho se afaste do meu,
como dois rios nascidos da mesma montanha
que seguem destinos opostos até o mar imenso.
Não te reclamo, não te aprisiono em meus versos.
É na ausência que te faço mais presente,
quando tua lembrança se ergue como lua sobre o deserto.
Cada estrela me conta segredos do teu andar
e o vento traduz o sussurro da tua respiração.
Serás eterna em minha memória como são eternas
as ondas que beijam a areia e se desfazem.
E quando a noite se espalhar sobre meus olhos cansados,
será tua luz o que ainda verei na escuridão completa.
Levarei comigo apenas esta certeza:
que te amei como se ama a liberdade,
sem correntes, sem promessas, sem limites.
E nisso encontro a paz dos que souberam amar e partir.
Marilândia
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