"A POESIA EXPRESSA IDEIAS E EMOÇÕES, MAS NUNCA DE MANEIRA CLARA, PARA , ATRAVÉS DO MISTÉRIO E DO ENIGMA, ATIVAR A IMAGINAÇÃO DO LEITOR."
domingo, 13 de dezembro de 2020
ÓDIO?/ INDIFERENÇA!
ÓDIO?// INDIFERENÇA!
Ódio por ele? Não... Se o amei tanto,// Nem ódio, nem rancor! Tanto amei esse dócil amante,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,// Figurando-lhe n'alma clarões eternais,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,// Sob a dolência de sonhar estonteante,
Se à vida assim roubei todo o encanto,// Sob o manto de desejos e pecados cruciais,
Que importa se mentiu? E se hoje o pranto// A escapar, vacilante? E, jazendo agora sob cenário decrépito
Turva o meu triste olhar, marmorizado,// Que rasga de alto a baixo o in_finito,
Olhar de monja, trágico, gelado// Galgando a solitária dor em in_quieta amargura
Com um soturno e enorme Campo Santo!// Aquele que o infortúnio desfigura!
Nunca mais o amar já é bastante!// Levo-o desfalecido até à morte!
Quero senti-lo doutra, bem distante,// No meu fundo mais tenebroso,
Como se fora meu, calma e serena!// E num pensamento asqueroso!
Ódio seria em mim saudade infinda,// Morta na flores das singelas castidades,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda!// Nas tredas convulsões de sonoridades!
Ódio por Ele? Não... não vale a pena...// Inda que num simbólico, alegórico transporte!
Florbela Espanca// Marilândia Marques Rollo

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