sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

AS MINHAS ILUSÕES// EM DELÍRIO

Marilândia Marques Rollo em dueto com poema de Florbela Espanca

 AS MINHAS ILUSÕES// EM DELÍRIO 

 Hora sagrada dum entardecer// Em céus de anil, sempre risonhos! 
De Outono, à beira-mar, cor de safira,// A embalar-nos em águas-marinhas e sonhos, 
Soa no ar uma invisível lira ...// Suspirando dentre sustenidos e bemóis... 
O sol é um doente a enlanguescer ...// Carregando em seus raios o desmaio dos girassóis ! 


 A vaga estende os braços a suster,// A ébria paisagem que dispara 
Numa dor de revolta cheia de ira,// Embalsamada de magoado pranto, 
A doirada cabeça que delira// Impregnada da angústia lacerante e rara... 
 Num último suspiro, a estremecer!// Em busca de um mundo sacrossanto! 
 



O sol morreu ... e veste luto o mar ...// Porquanto a morte carregou o astro-rei! 
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,// Sinto seus frementes passos, vacilando, 
À flor das ondas, num lençol de espuma.// Sem destino, sob pétalas rubras que cinzelei. 
 


As minhas Ilusões, doce tesoiro,// Solenemente lavradas dentre paz e êxtases... 
Também as vi levar em urna de oiro,// Para terrenos de cinza e cal, miserandos, 
No mar da Vida, assim ... uma por uma ...// Ora em chamas... ora em catarses! 


 Florbela Espanca// Marilândia Marques Rollo

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